domingo, 4 de novembro de 2007

REJANE COMO HAUSFRAU


Eu não fui criada como as alemãs e nem mesmo como as brasileiras que tudo aprenderam no lar. Fui criada para estudar e ser uma profissional, mas desde pequena contrariava a minha mãe por gostar de cozinha, mudar os móveis de lugar e ter interesses por coisas de casa. Insisti tanto nisso que aprendi a cozinhar, pregar botão essas coisas com uma vizinha, a inesquecível tia Cleirismar. Mas foi nos Estados Unidos que aprendi na marra muita coisa que só a empregada da minha casa fazia. Lá tive que me virar e hoje na Alemanha dou graças a experiência vivida naquela época na Califórnia com a Martha e o Rudy e a tia Cleirismar no Brasil.

Aqui na Alemanha as mulheres fazem tudo em uma casa, mesmo as que tem dinheiro não contratam sequer faxineira, só em casos excepcionais, de doenças etc, que dirá empregada. A cultura é rígida nesse assunto e essa rigidez nos assustou. Chega a ser um absurdo uma família pensar em ter uma empregada. Só milionários e as vezes nem eles. Antes era mais comum a mulher ficar em casa e o homem trabalhar fora. Era algo natural na vida dos alemães, cada qual com sua função. A mulher com os filhos e a casa e o homem lá fora no mercado de trabalho trazendo o sustento. Esse cenário mudou nas ultimas décadas. Hoje há muito mais mulheres no mercado de trabalho, mas elas passaram a ter dupla jornada, emprego e casa. Os homens ajudam, mas não tanto quanto seria necessário para diminuir a sobrecarga das mulheres. Eu diria que os homens aqui ajudam mais que os brasileiros e menos que os americanos.

Aqui na nossa região de Westerwald o cenário é diferente dos grandes centros. Aqui é região rural, cidade e vilas pequenas. As mulheres em sua maioria ainda ficam em casa, e são verdadeiras rainhas do lar. Quando trabalham só o fazem quando os filhos tem 3 anos e vão para a creche e mesmo assim tentam trabalho de meio expediente e se isso não é possível, deixam as crianças com os avós, nunca com babas.


Bem, eu entrei nesse cenário. Absorvemos totalmente a cultura porque concordamos com ela. Ficar em casa com a minha bebezinha foi a melhor coisa do mundo para mim. Eu não me incomodei de pegar pesado na casa e absorvi isso como a maioria das mulheres absorvem seus empregos e cuidam dos negócios dos outros: como meu trabalho. Só que eu cuido do meu negócio mais importante, minha família, meu lar. E acho que me sai bem. Pela manha a rotina é a casa e a cozinha e a tarde as crianças e a roupa. E acreditem: minha casa esta Perfekt. Sempre limpa e organizada. Mas passei a ficar muito perfeccionista e temer que minha casa não fosse tão organizada e limpa como a das alemãs. Eu não queria ser diferente delas. Só depois de quase um ano admitimos que eu não dava conta de tudo e que meus filhos poderiam sofrer e passamos a enxergar que para manter a casa sempre perfeita sem ajuda e com dois filhos pequenos é uma luta injusta e desigual, em especial para uma brasileira. Aprendemos a lição: Aceitar nossas origens, a forma que fomos criados.

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